O Semanário NOVO publicou a entrevista do Sr. Zhao Bentang, Embaixador da China em Portugal
2022-02-08 00:00

O Semanário NOVO publicou em 4 de fevereiro a entrevista do Sr. Zhao Bentang, Embaixador da China em Portugal. Segue-se a entrevista em íntegra:


1. O Senhor Embaixador Zhao Bentang chegou há um ano e já está a fazer história no que toca ao alargamento das festividades do Ano Novo Chinês às principais artérias de Lisboa e em especial à Avenida da Liberdade. É um diplomata muito activo. Qual é o simbolismo e origens culturais do ano novo chinês e quais as suas tradições? 


É uma boa pergunta e é por onde devemos começar. O Ano Novo Chinês, também conhecido por Festival da Primavera, conta com mais de 4000 anos de história, e remonta às atividades religiosas da Dinastia Shang, e da Disnastia Han em que foi estipulado como um Festival Nacional.

Os chineses têm uma expressão popular e antiga: “O Ano Novo Chinês lidera todos os festivais”. O Festival da Primavera, que marca o começo do ano novo lunar, é a data mais importante no calendário afetivo dos chineses. É o momento de reunião familiar, é um momento de troca de votos de felicidades e sorte aos familiares e amigos, e ao mesmo tempo todos se preparam para se despedir dos velhos tempos e se põem prontos para iniciar uma nova jornada. 

O primeiro dia do primeiro mês no calendário lunar chinês é a data do Festival da Primavera, por isso, a data do Festival no calendário solar difere de ano para ano. Em 2022, o Festival da Primavera calha no dia 1 de fevereiro. Durante o período do Festival da Primavera, fazemos compras, decoramos a casa com símbolos de boa sorte e lanternas coloridas, lançamos fogos de artifício, e comemos “jiaozi”, uma espécie de “raviolis”. Estes costumes representam a esperança dos chineses para um ano novo com mais sorte e prosperidade. Claro, para os chineses, tudo isto também representa a herança e valorização da cultura tradicional chinesa. 

O Festival da Primavera é um momento auspicioso. Muitos amigos estrangeiros conhecem os 12 signos do horóscopo chinês, que são 12 animais que representam os anos do nascimento e são eles o Rato, o Boi, o Tigre, o Coelho, o Dragão, o Serpente, o Cavalo, o Carneiro, o Macaco, o Galo, o Cão e o Porco.  

Cada signo do horóscopo representa um ano diferente, diz-se que as pessoas que nascem em diferentes anos também podem ter diferentes personalidades. O signo do ano 2022 é o do Tigre, que é o símbolo da coragem, força e vigor. Neste momento em que nos despedimos dos velhos tempos e iniciamos uma nova jornada, em nome da Embaixada da China em Portugal, desejo um bom ano novo chinês a todos os amigos portugueses, toda a comunidade chinesa em Portugal e todos os amigos pelo mundo. Que todos tenham um ano do Tigre com muita sorte e muita força!

O Festival da Primavera não pertence somente à China, mas trata-se de uma tradição universal. Durante o período do Festival da Primavera, muitas cidades pelo mundo realizam grandes eventos festivos.

Se viver em Lisboa, acredito que já tenha descoberto as decorações chinesas nas principais artérias de Lisboa para se recriar uma atmosfera festiva com antecipação, decorámos a Avenida Almirante Reis e a Praça Martim Moniz com as lanternas chinesas vermelhas. Desde o dia 30 de janeiro até ao dia 8 de fevereiro, todos poderão ver as decorações com características culturais chinesas na Praça do Marquês de Pombal, na Praça dos Restauradores e na Avenida Infante Dom Henrique. Acredito que os amigos portugueses que também compartilham o mesmo amor pela Pátria, o respeito à harmonia, a herança das tradições e a procura incessante de uma vida melhor que também são sentimentos partilhados pelos chineses ao celebrar o Festival da Primavera.


2.Que celebrações de Ano Novo terão este ano lugar em Portugal? 

Neste ano o Ministério da Cultura e Turismo da China, a Embaixada da China em Portugal e a Câmara Municipal de Lisboa co-organizaram o evento “Feliz Ano Novo Chinês 2022 em Portugal”, que foi um momento de partilha da alegria da chegada do Ano Novo Chinês do Tigre com o povo português tido lugar no passado dia 1 de fevereiro em que foi exibido nos websites de anonovochines.pt e cmjornal.pt e website SAPO (videos.sapo.pt/anonovochines) onde os leitores poderão rever. Depois do dia 1 de fevereiro, exibiremos mais espetáculos e exposições virtuais nos websites anonovochines.pt e SAPO e gostaria de aproveitar esta oportunidade para o convidar todos os leitores ao nosso evento virtual. 


3. A inauguração dos Jogos Olímpicos de Inverno “Pequim 2022” tem início a 4 de fevereiro e estendem-se até ao dia 20, que novidades nos poderá descortinar dos preparativos destes Jogos? Perante a actual situação severa do Covid-19, como é que a China garantirá a pontualidade, a segurança e o sucesso dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022?

A cidade de Pequim está bem preparada para oferecer ao mundo uma festa olímpica simples, segura e excelente, o corolário de seis anos de preparação. Conforme o meu conhecimento, cerca de 2880 atletas de 91 países e territórios, incluindo de Portugal, participarão nos Jogos. Acredito que estes atletas possam concretizar os seus sonhos e metas em Pequim. 

Atualmente, a situação da Covid-19 pelo mundo continua severa. A China tomará medidas concretas de prevenção e controlo da Covid-19 ao mesmo tempo que irá proceder aos preparativos dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim com alta eficiência e critério rigoroso. Até ao momento, a China, junto com o Comité Olímpico Internacional e o Comité Paralímpico Internacional já publicaram conjuntamente duas edições do Manual de Prevenção e Controlo da Covid-19 para os Jogos e estabeleceram regras para todas as partes envolvidas. As medidas relevantes representam as conquistas mais recentes da investigação científica, resumem as opiniões dos especialistas chineses e estrangeiros, onde assimilaram as experiências acumuladas em muitos grandes eventos desportivos internacionais. Foram ensaiadas com sucesso nas 13 competições de teste e semanas de treino que realizadas entre outubro e dezembro no ano passado. 

Acreditamos que estas medidas possam garantir bem a segurança e saúde dos atletas e participantes, e ao mesmo tempo assegurar a realização do evento com sucesso. O Presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach entre outros membros de alto nível do Comité, bem como a Organização Mundial da Saúde deram um alto reconhecimento à preparação dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, tendo alta confiança em que a China oferecerá um evento olímpico “simples, seguro e excelente”. 

Portugal enviará a maior Delegação na história, representando plenamente a grande importância e esperança que a parte portuguesa atribui aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim e que desejamos bons resultados à Missão Portuguesa. 


4. O Sr. Embaixador assumiu funções em fevereiro de 2021. Como Embaixador da China em Portugal, qual é a sua avaliação do desenvolvimento das relações luso-chinesas no último ano, nomeadamente neste contexto da pandemia? Quais as suas expectativas sobre o futuro das relações entre os dois países?

 Dando um olhar retrospectivo ao relacionamento bilateral sino-português no ano passado, gostaria de resumir com um verso de um poema clássico chinês: "De qualquer direção que os ventos saltem, mais resiliente e forte permanecem, mesmo com mil e um golpes que sofrem." Atualmente, as grandes e profundas transformações do mundo e a pandemia não vista num século estão entrelaçadas e sobrepostas, o que implica naturalmente novos factores de incerteza às relações sino-portuguesas. No entanto, como Parceiros Estratégicos Globais, a China e Portugal persistem sempre na compreensão, confiança e respeito mútuos, bem como o tratamento igual e benefícios recíprocos, tendo-se ajudado e avançado de mãos dadas. E conseguiram resistir ao teste colocado pela pandemia e pelas mudanças da conjuntura internacional, demonstraram a resiliência, vitalidade e potencial da Parceria Estratégica Global entre a China e Portugal, que já é um exemplo da cooperação de ganhos compartilhados entre países com diferentes sistemas sociais, histórias e dimensões geográficas.

Neste último ano, a confiança política mútua entre os dois países vem-se consolidando, a cooperação pragmática foi frutífera, e o intercâmbio cultural e interpessoal ganhou maior dinamismo. O Presidente Xi Jinping teve mais uma conversa telefónica com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, chegando a importantes consensos sobre a coordenação sino-portuguesa no combate conjunto à pandemia e no aprofundamento da cooperação pragmática entre os dois lados, indicando o caminho para o desenvolvimento das relações entre os dois países.

O Conselheiro de Estado e Ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, e o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, realizaram a 1ª reunião do Diálogo Estratégico entre os Ministros dos Negócios Estrangeiros da China e de Portugal. Os dois países superaram juntos as adversidades causadas pela pandemia, e levaram adiante a sua cooperação pragmática contra a tendência, tendo obtido novos resultados de cooperação nas áreas de comércio e investimento, infra-estruturas, energias limpas, e economia digital, etc.. Os Ministros de Ciência e Tecnologia dos dois países realizaram com sucesso um encontro virtual, em que trocaram impressões de forma profunda sobre o reforço da cooperação na ciência, tecnologia e inovação, e testemunharam juntos o lançamento do STARLab China-Portugal no quadro de Uma Faixa e Uma Rota. A cooperação sino-portuguesa já ultrapassou o âmbito bilateral, e está a estender-se cada vez mais às cooperações tripartidas até multilaterais voltadas aos países de língua portuguesa e da UE, o que desempenha um papel exemplar e estimulante às relações entre a China e a UE, bem como entre a China e os países de língua portuguesa. Agora em Portugal, há 5 Institutos Confúcios e 2 Salas de Aula confúcio, e 13 escolas secundárias públicas portuguesas já abriram curso da língua chinesa, enquanto na China há 47 universidades que têm curso de língua portuguesa. A China e Portugal também mantêm coordenação e comunicação estreitas nos assuntos multilaterais e internacionais. A parte chinesa apoiou a recondução do Secretário-Geral António Guterres nas Nações Unidas, enquanto a parte portuguesa também dá o seu apoio à parte chinesa em diversas eleições das organizações internacionais.

Pode-se dizer que as relações sino-portuguesas têm uma base sólida, um enorme potencial e amplas perspectivas. O desenvolvimento saudável e estável das relações bilaterais está em conformidade com os interesses comuns dos dois países e dos dois povos. Como todos sabemos, Portugal realizou recentemente eleições legislativas com sucesso e vai formar um novo governo. Acreditamos que as eventuais mutações de governo ou do ambiente internacional não afetarão a base sólida e futuro brilhante das relações entre a China e Portugal. Gostaria de citar mais um verso do poema chinês para expressar as minhas boas expectativas sobre as futuras relações sino-portuguesas: "um patamar mais alto, uma vista mais magnífica". 

A parte chinesa está disposta a trabalhar em conjunto com a parte portuguesa, para implementar os importantes consensos alcançados pelos líderes dos dois países, aumentar continuamente a confiança política mútua, fortalecer os intercâmbios em todos os níveis, aprofundar a cooperação pragmática, enriquecer os intercâmbios culturais e interpessoais, e intensificar a comunicação e coordenação nos assuntos internacionais e regionais. Continuaremos a herdar e incrementar a amizade sino-portuguesa, procurar um maior desenvolvimento das relações sino-portuguesas na era pós-pandemia, melhor beneficiar os dois países e povos, e fazer maiores contributos para a construção de uma Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade.


 5. Há pouco tempo, o Presidente da China Xi Jinping fez uma intervenção na Reunião Virtual do Fórum Económico Mundial 2022, o que atraiu muita atenção da comunidade internacional, inclusive de Portugal. Qual é o sinal nos deu esta intervenção? Que significado tem para o mundo enfrentar os difíceis desafios como a pandemia?

A 17 de janeiro, o Presidente Xi Jinping participou e interveio na Reunião Virtual do Fórum Económico Mundial 2022, em que apresentou, a partir de um nível histórico e filosófico, a solução chinesa para a derrota da pandemia e a construção conjunta do mundo do pós-pandemia. Atualmente, as mega-transformações do mundo estão entrelaçadas com as implicações da pandemia, a economia mundial experimenta dificuldades na sua recuperação, o fosso do densenvolvimento tem-se vindo a aumentar, e a mentalidade da guerra fria volta a ganhar forma. O mundo entrou numa nova fase de turbulências e revoluções. O Presidente Xi Jinping salientou na sua intervenção, que a sociedade internacional deve conjugar a força para combater juntos a pandemia, reforçar a coordenação das políticas macro-económicas para promover a recuperação estável da economia mundial, colmatar o fosso do desenvolvimento, não deixando ninguém para trás, e descartar a mentalidade da guerra fria para procurar a coexistência pacífica e a cooperação de benefícios mútuos.

O discurso foi recebido com grande ressonância na comunidade internacional. O fundador do Fórum Económico Mundial, Klaus Martin Schwab, elogiou o discurso do presidente Xi como um marco importante na promoção da cooperação global, que apontou o caminho para um futuro melhor para a China e o mundo.


 6. O Presidente Xi Jinping afirmou que é preciso seguir a globalização económica, defender o “multilateralismo genuíno” e “opor-se à mentalidade da guerra fria, protecionismo e unilateralismo”. Como interpreta?

A pandemia da Covid-19 causou impactos severos à economia mundial e governança global, e agravou as crises de inflação, dívida, energia e cadeia de fornecimento. Um sistema da governança global mais justo, equitativo e racional constitui a garantia importante para a recuperação estável da economia mundial. Citando as palavras do Presidente Xi, apesar de tantas contracorrentes e corredeiras, a globalização económica nunca mudou nem alterará o seu curso. Os países do mundo devem defender o verdadeiro multilateralismo e persistir em remover barreiras em vez de erguer muros, abrir-se em vez de se fechar e integrar-se em vez de se desvincular, para promover a construção de uma economia mundial aberta. 

 Devemos orientar a reforma do sistema de governança global de acordo com os princípios de equidade e justiça, criar um ambiente aberto, justo e não discriminatório para a ciência, tecnologia e inovação, a fim de tornar a globalização económica mais aberta, inclusiva, equilibrada e benéfica para todos, e libertar totalmente a vitalidade da economia mundial.

Agora a humanidade encontra-se num encruzamento da história. A paz, o desenvolvimento e a cooperação mutuamente benéfica são desejo comum de toda a comunidade internacional. O Presidente Xi Jinping salientou que o protecionismo e o unilateralismo não podem proteger ninguém, e só acabam por afetar os interesses dos outros, bem como os próprios. Pior ainda são as práticas de hegemonia e “bullying”, que contrariam a maré da história. Os atos obstinados de construção de “pátios exclusivos com muros altos” ou “sistemas paralelos”, de montagem de pequenos círculos ou blocos exclusivos que dividem o mundo, de banalização do conceito de segurança nacional para conter avanços económicos e tecnológicos de outros países, e os atos de fomentar o antagonismo ideológico e politizar ou armar questões económicas, científicas e tecnológicas, prejudicará gravemente os esforços internacionais para enfrentar desafios comuns. Os países e civilizações diferentes devem procurar desenvolvimento comum com base no respeito mútuo, e reforçar a cooperação de ganhos compartilhados na busca de consensos pondo de lado as divergências. Vamos empenhar-nos na estabilização das ordens internacionais, levar adiante os valores comuns de toda a humanidade, e promover a construção da “Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade”.

A China e Portugal têm posições semelhantes em muitas questões internacionais. Ambos apoiam o multilateralismo e comércio livre, contrariam o unilateralismo e protecionismo. A parte chinesa está disposta a estreitar a coordenação com a parte portuguesa nas instituições multilaterais, defender juntos os princípios fundamentais das relações internacionais que têm a Carta das Nações Unidas como o núcleo, e salvaguardar o sistema do comércio multilateral centrado na Organização Mundial do Comércio. Vamos intensificar a sinergia entre as estratégias do desenvolvimento dos dois países, estreitar a coordenação das políticas macroeconómicas, e criar juntos um ambiente do comércio aberto, justo, equitativo e não discriminatório, no sentido de desencadear a força motriz e vigor na construção conjunta de “Uma Faixa e Uma Rota”, beneficiar melhor os dois povos, e injetar mais estabilidade e energia positiva ao mundo.


 7. As relações económicas e comerciais são os alicerces das relações entre Portugal e a China. Qual o ponto de situação da atual cooperação pragmática entre Portugal e a China nos mais variados domínios tais como: o comércio e investimento? No âmbito da pandemia, como é que poderemos explorar ainda mais o potencial desta cooperação pragmática?

Devido aos esforços conjuntos dos ambos governos e povos, as relações económicas e comerciais sino-portuguesas desenvolvem-se de forma constante, rápida e saudável. Desde o início da pandemia, Presidente Xi Jinping e Presidente Marcelo Rebelo de Sousa realizaram duas reuniões por telefone, trocando impressões e chegando ao consenso importante sobre a cooperação no combate à pandemia, a sinergia das estratégias de desenvolvimento dos dois países, a promoção da cooperação nas áreas da energia, finanças, infraestruturas e etc., e a exploração da cooperação nos mercados terceiros. Sob a orientação e promoção dos dois líderes, a cooperação económica e comercial sino-portuguesa atinge novos patamares diante das dificuldades.

Em primeiro lugar, a dimensão comercial continua a aumentar-se. Mesmo em contexto de pandemia e de contínua desaceleração do comércio internacional, as trocas comerciais bilaterais continuam a crescer. Segundo as estatísticas das Alfândegas Chinesas, de janeiro a novembro de 2021, o valor total das trocas comerciais de bens entre a China e Portugal atingiu os 6,786 mil milhões de euros, com um aumento homólogo de 22,94%. Durante o mesmo período, a exportação da China para Portugal atingiu os 4,066 mil milhões de euros, registando um crescimento homólogo de 22,85% e a importação de Portugal para a China alcançou os 2,721 mil milhões de euros, marcando um acréscimo homólogo de 23,07%. A China continua a ser o maior parceiro comercial de Portugal na Ásia.

E segundo, o investimento mútuo aprofunda-se. De acordo com as estatísticas do Banco de Portugal, no final do terceiro trimestre de 2021, o valor acumulado do investimento de Portugal na China foi de 44,97 milhões de euros, representando um crescimento homólogo de 9,71%. No mesmo período, o valor acumulado do investimento da China em Portugal, foi de 2,839 mil milhões de euros, registando um aumento homólogo de 8,27%. Contudo, se forem incluídos os diversos investimentos realizados por empresas chinesas em Portugal através de mercados terceiros, o valor do investimento chinês em Portugal será muito superior ao divulgado pelas estatísticas do Banco de Portugal, abrangendo os setores da energia, finanças, seguros, saúde, telecomunicação, recursos hídricos, construção, desenvolvimento de parque industrial, design e engenharia, aviação, produtos aquáticos, restauração, etc..

Em terceiro lugar, a cooperação financeira mantém-se em bom rítmo. Através dos esforços conjuntos das instituições bancárias dos ambos os países, foi lançado em Portugal o cartão com marca UnionPay (Sistema de Pagamento Bancário Chinês). Várias instituições chinesas, tais como o Banco da China, o Banco Industrial e Comercial da China, Group Fosun, Bison Capital e Tianying Capital, investiram no setor bancário e de seguros em Portugal. Portugal realizou a primeira emissão de “panda bonds” com valor total de 2 mil milhões de renminbi, tornando-se no primeiro país da zona euro que emite dívida em moeda chinesa.

Em quarto lugar, a cooperação em mercados terceiros não pára de crescer. O investimento mútuo sino-português não traz somente notáveis benefícios económicos e sociais às sociedades locais, mas também tem criado muitos frutos em mercados terceiros na Europa, África e América Latina. A cooperação em mercados terceiros já é um ponto marcante para a Parceria Estratégica Global China-Portugal e sobretudo para a cooperação económica e comercial entre os dois países.

No âmbito da pandemia, a cooperação económica e comercial entre os dois países também demonstra, mais uma vez, uma forte resiliência e complementaridade, cujo resultado é indissociável aos esforços conjuntos dos dois governos e povos. Perante as dificuldades causadas pela pandemia, tais como a restrição de viagens bilaterais de negócios, a desaceleração de novos projetos, e o atraso de progresso dos projetos existentes, é necessário que ambos governos fortaleçam ainda mais a comunicação e a coordenação para criar melhores condições e mais facilidades para as empresas dos dois países. Espero sinceramente que após a pandemia, as empresas de ambos os lados possam reforçar a confiança, melhorar os canais de cooperação, e explorar o potencial de cooperação e novas oportunidades, de modo a levar as relações económicas e comerciais China-Portugal para um novo patamar.


8.Portugal foi dos primeiros países a participar na iniciativa de “Uma Faixa e Uma Rota, qual o atual papel de Portugal e qual o potencial que ainda está por explorar?

Portugal é um antigo país marítimo, ponto de partida europeu da antiga Rota da Seda Marítima e um ponto importante de ligação entre a Rota da Seda Terrestre e a Rota da Seda Marítima, e é um parceiro natural para a construção conjunta de “Uma Faixa e Uma Rota”. Ao mesmo tempo, é um país que participa ativamente na construção desta iniciativa, um dos 57 países membros fundadores do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas e o primeiro país da Europa ocidental a assinar um Memorando de Entendimento da Cooperação com a China para construir em conjunto “Uma Faixa e Uma Rota”. Além disso, também é o primeiro país europeu a estabelecer formalmente uma “Parceria Azul” com a China, a emitir cartões de Union Pay por uma importante instituição financeira local e o primeiro país da zona euro a emitir dívida em moeda chinesa. 

A China dá grande importância ao papel fundamental de Portugal na construção de "Uma Faixa, Uma Rota" e incentiva as empresas chinesas a realizarem ativamente com as empresas portuguesas uma cooperação pragmática baseada nos princípios de ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios partilhados. Nos últimos anos, a China e Portugal alcançaram progressos constantes e resultados frutíferos na construção conjunta de “Uma Faixa e Uma Rota”. Mais em concreto, a China tornou-se no maior parceiro comercial de Portugal na Ásia, sendo também Portugal um dos principais destinos do investimento chinês na Europa. Os dois lados fazem pleno uso dos recursos financeiros que têm ao dispor, tais como: o Fundo de Desenvolvimento da Cooperação China-Portugal, a linha de crédito do Banco Asiático de Infraestrutura, o Fundo da Rota da Seda e o empréstimo especial no âmbito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, o qual permite fornecer apoio financeiro aos mercados China-Portugal em áreas-chave, tais como: a energia, a construção de infraestruturas e a cooperação de capacidade produtiva, promovendo efetivamente a implementação de projetos de cooperação entre os dois países. Paralelamente, a construção conjunta de “Uma Faixa e Uma Rota” entre a China e Portugal ultrapassou o âmbito da cooperação bilateral, expandindo-se para uma cooperação tripartida para África, União Europeia e países da América Latina, tornando-se um exemplo de cooperação em mercados terceiros no âmbito da iniciativa “Uma Faixa e Uma Rota”, trazendo também benefícios tangíveis para os povos de ambos os países e para os mercados de países terceiros.

As economias da China e de Portugal são altamente complementares e têm um enorme potencial de cooperação. A parte chinesa está disposta a trabalhar com a parte portuguesa para alinhar a cooperação mutuamente benéfica com as respetivas estratégias de desenvolvimento e aprofundar de forma abrangente a cooperação pragmática em vários domínios no âmbito da iniciativa “Uma Faixa e Uma Rota”:

Em primeiro lugar, continuar a explorar o potencial comercial dos dois países, otimizar a estrutura comercial, fazer pleno uso das plataformas comerciais de grande escala como a “China International Import Expo” para promover os produtos e serviços portugueses e usar o Acordo sobre as Indicações Geográficas entre a China e a UE para ajudar os melhores produtos de alta qualidade mais característicos a entrarem no mercado do outro, de modo a aumentar o volume de comércio bilateral para um nível mais alto.

Em segundo, continuar a explorar o potencial de cooperação de investimento. Ao mesmo tempo de consolidar os princípios da cooperação tradicional, pode-se explorar novas áreas de cooperação, como economia verde e a transição digital, para aumentar ainda mais o nível de cooperação. 

Em terceiro, continuar a explorar o potencial da cooperação em mercados terceiros através de um modelo aberto e inclusivo da cooperação tripartida, impulsionando alianças fortes e vantagens complementares, não só alcançando benefícios mútuos e resultados “win-win”, mas também contribuindo para o desenvolvimento económico dos países terceiros a fim de obter um resultado onde a soma é maior do que as partes.

A iniciativa “Uma Faixa e Uma Rota” está de acordo com a atualidade e vai ao encontro do desejo da China e de Portugal em termos de relações win-win e desenvolvimento comum. Acredita-se que os esforços conjuntos dos dois governos e empresas da China e de Portugal, a cooperação pragmática em vários domínios no âmbito da iniciativa referida alcançará resultados mais positivos, promovendo a estabilidade e o desenvolvimento a longo prazo dentro da Parceria Estratégica Global China-Portugal, e trará benefícios para os povos dos dois países, melhorando desta forma as suas condições de vida.